Pátria
- Isabella Collett
- 27 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de jun.

Mais uma vez o dia começa em outra casa.
São outras árvores, outro céu, outras cores
O vento é diferente nessa pátria, as pessoas também.
Desde os primeiros momentos do dia, da culinária na mesa, da maneira que a rua se movimenta, como as pessoas se cumprimentam, ou não, nas esquinas, tudo é um lembrete: essa não é a minha casa.
Para muitas famílias que precisaram sair de seus países essa é a realidade de todos os dias.
Melhores empregos, melhor qualidade de vida, uma oportunidade que não dava para negar, o amor da vida mora em outro país, a minha família está longe... Muitas são as razões que vão fazendo a casa caber numa mala, e uma saudade que não tem tamanho transbordar pelo coração.
E no meio de tantas histórias de imigrantes e suas razões incontestáveis tem você, tem uma amiga sua, um irmão, aquela família que você acompanha nas redes sociais, e tem também uma garota que precisou sair de sua casa, sua família, seus costumes e cultura para trabalhar.
Não sabemos o seu nome, mas conhecemos sua história.
Ela acordou mais uma vez em seu mundo revirado por mudanças. Aos poucos ela ia fazendo a sua nova cama ter a forma do seu corpo, ia aprendendo o nome das pessoas naquela casa diferente, ia descobrindo a maneira que eles se comportavam, e comendo aquelas comidas diferentes.
Ela era uma criança israelita, vivendo na Síria como serva de alguém.
Um dia diante da movimentação da casa ela percebe que a sua casa na verdade não é ali, seja Israel, ou Brasil, Europa ou Estados Unidos, a sua pátria é além das nuvens e é por isso que ela encontra a alegria de viver como estrangeira, como escrava.
Aquelas roupas, aquela cultura, aquelas pessoas, nada mudaria a sua fé no Deus que havia criado a sua história que não era delimitada por reinos, muros ou pontes.
Fazendo o seu trabalho como se estivesse fazendo para Deus, sendo amorosa, piedosa, humilde, paciente, servindo com alegria, entregando o seu melhor, ela viu a oportunidade de testemunhar sobre aquela casa que cabia na sua alma, não na sua mochila.
Aquela serva de Naamã explica que lá na sua terra natal havia um profeta de Deus que poderia curar o seu senhor da lepra. Não era sobre a cidade de onde ela vinha, era sobre o Deus que seu povo servia.
Ela não desejava mal para quem a escravizava, ela sabia que o Deus que ela adorava era maior do que qualquer corrente. Ela não odiava o povo que a cercava, ela entendia que o Deus que ela amava derramava amor por entre as nações. Ela não vivia apenas alimentando a saudade do passada, aquela casa antiga, aquela mesa de antes, porque o Deus que ela louvava era real em sua vida de agora, aonde quer que ela estivesse.
Brasileiros, israelitas, americanos, italianos, espanhóis, africanos, e aonde quer que tenhamos nascido, que nosso coração, nascido de novo para o Deus Criador, viva sob a perspectiva do Deus do Universo.
Esse Deus que nos chama para viver o seu Reino num agora, mas ainda não, morando numa terra que insiste em nos escravizar, sem perceber que nosso coração foi forjado para eternidade.
Como estrangeiros, morando ou não na cidade que nascemos, vamos aprendendo, como a serva de Naamã que a cultura que carregamos no peito é sobre o testemunho do nosso Rei, que visitou nossa terra, que se entregou pelos seus súditos para que em breve vivamos com ele na Cidade Celestial.
O Deus que criou tudo, nos convida para viver o seu Reino agora, nessa cultura, nesse tempo, nesse cenário, nessa pátria que estamos
No enquanto isso, nossa casa, nossa cama, nossa comida, seja aonde for, fala sobre Ele. Nos nossos gestos, no nosso sorriso, no nosso falar e agir, quem passa por nós, quem nos acolhe em inglês, português, espanhol, ou mesmo sem palavras, descobre esse amor que nos motiva dia após dia.
E como aquela serva de Naamã, acordamos sabendo que nossa casa além
das nuvens movimenta nossa fé e esperança do agora.
Que nossa pátria seja Ele, que nosso reino seja o Dele, aonde quer que estejamos nessa Terra que ainda chamamos de casa.
Marta Siza
Escritora
Mãe de dois
Apaixonada por histórias

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